terça-feira, 15 de julho de 2014

OS TEMORES DA ÁGUIA


Pobre inseto emplumado!
Suspira em tom piedoso, uma águia compassiva junto do beija-flor. 
Que destino malvado tiveste, poeira viva, triste átomo de bico! 
A injusta natureza fez-te pequeno e lindo e deu-te o sofrimento
dos males sem remédio! 
Estúpida grandeza!
O menor grão de milho equivale, em tormento, a cargas de fadiga!
Um pingo de água, um: só, atira-te por terra!
Precisas que eu te diga como isto me apavora ou quanto isto me aterra(*)?

- Quem solta a ventania, os trovões, o corisco, responde o beija-flor, deu-me o ensino da vida.
Pesa-me um grão de milho?
Abate-me um chuvisco?

Graças à Providência, acho atrás de uma folha, amparos de guarida(*) e em rosas de vergel(*) farturas de opulência.


(*)ATERRAR = causar terror
(*)GUARIDA = refúgio
(*)VERGEL = pomar

Fonte:
http://www.brasilcult.pro.br/fabulas/fabulas_balthazar_aguia.htm
Ilustração de Correa Dias no Livro de Fábula de Balthazar Pereira, edição do Anuário do
Brasil, Rio, 1925.

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